Gosto de pessoas que se importam. E pessoas que se importam estão em vias de extinção.
Lembra da época em que você costumava mandar cartas? E gravar um CD pro amigo com uma coletânea de músicas e customizar a capa? Sabe a ligação telefônica sem motivo, só pra conversar aleatoriedades?
Sorrio por dentro e me sinto tomada por um misto de felicidade, por ter tido a alegria de colocar essas coisas na minha caixinha de memórias, e tristeza, por perceber o quão raras essas pequenas demonstrações de afeto têm se tornado.
Pergunto-me se o motivo seria a chegada da *idade adulta* (pff). Tá todo mundo muito ocupado tentando cuidar da própria vida e pagar as contas? Ou será que, com o passar do tempo e mudanças de rotina, já se viu tanta gente indo e vindo que nenhum sentimento mais é digno de esforço, afinal a experiência demonstra que "fulano também vai passar"?
Prontinha uma torta de vida adulta amarga, com recheio de preguiça, flocos de comodismo e coberta de solidão em calda, aceita um pedaço?
Não sei se preciso falar que me enquadro nas assertivas (er, com a ressalva de que ainda preciso ter minhas próprias contas pra pagar). Também tenho notado que todos os conhecidos que vivem num contexto parecido com o meu, salvo raras exceções, estão infelizes. E muitas dessas pessoas, em algum grau, sofrem com a solidão.
Tenho pensado bastante nisso e em como posso fazer pra tentar recuperar as relações (de verdade! inteiras!) de tempos passados.
Eu que sempre detestei telefone tenho tentado dar um bom uso à minha promoção Infinity (e testado minha paciência com a eficiente Tim, a propósito), resolvendo fazer ligações que há muito vinha adiando. Sem motivo, sem hora marcada. Só pra conversar.
Taí uma desgraça que a internet tem feito: ninguém mais se dedica exclusivamente a uma conversa. Você pode até esperar ansiosamente por aquela pessoa em especial, mas é diferente "esperar" que alguém apareça, de ter a iniciativa e a atitude de: "ei, estou ligando porque quero falar, SÓ FALAR, com você - não jogar, ler o texto que salvei nos favoritos há 3 meses, ou ver as imagens idiotas que postam no facebook. E SÓ COM VOCÊ, não com os contatos que estão piscando em janelas de quatro chats diferentes".
Vocês estão vendo a gravidade, amigos? Receber atenção exclusiva em uma conversa tem se tornado artigo de luxo hoje em dia! Quem consegue competir com um smartphone?
As facilidades proporcionadas pelos meios de comunicação e redes sociais modernos são essenciais, sim. Ninguém mais conseguiria viver sem eles, então não vou pregar que todo mundo jogue o IPhone 5 na parede. Mas fico saudosista lembrando dos tempos (sim, eu era pequena, mas lembro de algumas coisas), em que as pessoas tinham que comprar fichas ou cartões pra ligar do orelhão da esquina. Imagina como seria conhecer uma pessoa "bacana" naquela época? Um achado, vamos casar logo! OK, sem extremos, mas as pessoas valorizavam os encontros, né? E a ansiedade de esperar uma carta? A delicadeza de cada detalhe pensado, da emoção posta na letra (sim, dava pra notar isso)... Sinto falta. Eu me pergunto se não seria demasiada ingenuidade de minha parte esperar por pessoas que ainda valorizam pequenos detalhes, pequenos gestos de dedicação e atenção. Do que adianta trabalhar tanto o intelecto, saber de tudo que se passa no mundo, ser amigo até da Jujuzinha da 3a série no Facebook, se pra você uma pessoa é só mais uma pessoa? Só mais uma pra escutar seus dramas banais no MSN, só mais uma de quem você escuta os mesmos mimimis e se sente útil, achando que fez mais que o suficiente. Qualquer pessoa, tanto faz. Penso que ninguém mais tem amigos, só tem internet. A amiga é a internet, não é a pessoa que eventualmente aparece pra conversar com você no chat. Aquela pessoa que virou contato virtual dificilmente fará parte da sua vida de verdade, porque você só conversa com ela por não ter absolutamente nada melhor pra fazer. E se vier a ser importante, que tipo de pessoa é você que tem tempo pra catar gente legal na internet? Certeza que muitos amigos reais estão sendo esquecidos (experiência própria).
Não sei vocês, mas eu percebo quando me enxergam como "mais uma que vem e vai", ou mais um contato virtual.
E infelizemente o peso da reflexão, frequente, muitas vezes acaba recaindo sobre uma pessoa só, geralmente o coitado do paquera da vez (prefiro "paquera" a "peguete", sorry). Porque dos amigos que estão sempre ali, eu consigo aceitar o comportamento. Se eles suportam minha presença capenga, por que não devo aceitar a deles? É via de mão dupla. Mas quando se trata de um relacionamento amoroso/sexual/wtf, o cara tem que PROVAR que vai estar sempre ali e que se importa, afinal se não é pra mergulhar de cabeça, melhor nem começar. Aí o problema se agiganta. Porque nem todo mundo compreende ou precisa dessa profundidade. O que é profundo pra ela, pode não passar de uma piscina infantil de plástico pra você. E a regra hoje em dia, esse é meu ponto, são os baixos padrões.
Aiai... Devo me sentir feliz por ter vivido coisas lindas que me transformaram em alguém com padrões elevados de satisfação, ou triste, por constatar que a maioria das coisas que considero importantes são tidas como bobagens-adolescentes/romantismo-que-não-significa-nada?
Acho que nunca consegui me contentar com pouco. Se me esforço, preciso receber atenção na mesma medida (no mínimo!). E, falando especificamente do campo amoroso/sexual/wtf, sei que JAMAIS vou conseguir ser feliz com alguém que claramente não se importa comigo. O que é um inferno, afinal os que demonstram se importar demais no início geralmente são canalhas falsos. E os que não dão tanta atenção no começo, acabam me entediando ou me afastando, porque os julgo frios. Aceita o desafio de me desencalhar, vida? É, concessões recíprocas, blablablá, vamos ver o que aparece. Esperanças, ainda as tenho, acredite se quiser.
Chego à conclusão, partindo da análise de meu próprio comodismo e de minha solidão, de que a apatia do mundo tem me afetado e eu sinto que preciso mudar. Preciso estar disposta a fazer pelos outros (de que gosto) tudo que espero que façam por mim, sem dúvidas. Esse vazio que sinto aqui e acolá vem disso. Preciso procurar os outros, preciso que saibam que podem contar comigo e evitar que mais pessoas maravilhosas fiquem pelo meio do caminho. Sem insegurança, afinal, gosto de quando lembram de mim mesmo que eu esteja desaparecida me escondendo em minha bolha. Por que os meus amigos vão achar incômoda a atenção que surpeendentemente resolvi dar? Este é um medo que eu preciso vencer.
Cada pessoa é um mundo. Cada pessoa tem suas dores, cada pessoa faz o melhor que pode, dentro de suas possibilidades. Ter seu valor reconhecido é uma das melhores sensações. Se determinada pessoa faz parte do seu universo, se é uma parte FELIZ do seu universo, trate de demonstrar. Não faça da sua vida um Twitter, um MSN, em que qualquer pessoa interage, mas não passa de um contato qualquer: se aparece ou não, tanto faz... Que coisa mais triste!
Afeto importa. Atenção importa. Contato físico importa. GENTE importa.