quarta-feira, 13 de julho de 2011

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Lindo Perfeito Nosso Senhor


Boa parte dos estudantes de Direito adora anunciar que é ESTUDANTE DE DIREITO. Como se fosse superior ao resto da humanidade e como se o curso requeresse uma sabedoria ímpar (vide baixas quantidade e qualidade dos formados).
Pra quem não sabe, eu sou advogada, recém-formada e não praticante (ainda). Ao contrário da maioria dos colegas que orgulha-se em proclamar a condição de "doutor", quando me perguntam o que eu faço da vida prefiro explicar que estou apenas estudando a dizer que sou advogada. Sei que enquanto eu não estiver segura, na prática, vou continuar com receio de afirmar que sou. Na faculdade, também contrariando a maioria, não me orgulhava de falar que era estudante de Direito.
Já deve ter dado pra perceber que eu não sou nenhum exemplo de vocação e paixão pela profissão que escolhi, não é? De fato, não me sinto muito à vontade no Direito (mesmo sabendo de toda sua beleza, importância, nobre missão etc.). Reconheço que parte disso se deve a inseguranças pessoais. É bem provável que eu venha convertendo as frustrações da falta de vocação em rancor e, como consequência, criticando os coleguinhas felizes e demasiado empolgados. No entanto, tenho certeza de que o fator que mais me causa desconforto (ou melhor, nojo!) no mundo jurídico é um mal que acomete parcela considerável dos "nobres colegas": EGO FAMINTO DO TAMANHO DO UNIVERSO!
Se o estudante é considerado semi-deus, o juiz/procurador/autoridade-rica-aleatória é divindade absoluta! E, como divindade que se preze, merece todas as homenagens dos mortais. Pobres doutores mortais que mendigam atenção (migalhas de influência?) a todo momento... O jus bajulandi desconhece o princípio da impessoalidade da Administração Pública.
Nesse círculo de puxa-sacos e egos inflados, acaba-se confundindo respeito e reverência com adulações pessoais excessivas. A meu ver, o respeito a uma autoridade prescinde de elogios ou congratulações pelo simples cumprimento de um DEVER. Não se trata de um favor, trata-se do exercício de uma função pública, remunerada (e muito bem remunerada, a propósito) com recursos de toda a sociedade.
É importante que sejam reconhecidos e elogiados os avanços de uma instituição (seja MP, Judiciário ou Polícia), a obra de um estudioso/doutrinador/cientista, boas teorias... Mas elogiar e parabenizar Doutor Fulano de Tal pelo simples cumprimento de sua obrigação é desnecessário e prejudicial ao sistema, à medida que fere o princípio da impessoalidade da Administração Pública e, de certa forma, atenta contra a imparcialidade do juiz (ou da instituição).
Ainda que discordem desses argumentos, há o seguinte (e incontestável): puxa-saquismo é ridículo e muito chato! Feitos publicamente, elogios desnecessários dirigidos a gente "importante" sempre revelam algum intere$$e por trás. Só quem perdeu o bom-senso (deixando-se cegar pela doutorzite?) é capaz de apreciá-los.

Apesar de todo esse blablablá, tenho plena consciência de que os deuses estão bastante satisfeitos com a situação. Os semi-deuses, por sua vez, se encarregam de dar continuidade ao sistema, pois almejam não só os rios de dinheiro (que, sem hipocrisia, eu também quero!), mas principalmente o status (com os súditos idiotas no pacote). Se algum dia eu precisar babar ovo pra conseguir alguma coisa, tou lascada... É por essas e outras que o Direito - prático - não me desperta paixão alguma.