quinta-feira, 2 de junho de 2011

Geração Twitter




É engraçado quando nos sentimos parte de uma geração. Ou melhor, estranho (ao menos pra mim). Até um certo momento, éramos a geração Coca-Cola. Jovens que receberam todas as facilidades de um mundo democrático de mão beijada, cujo único papel na sociedade era consumir. Afinal, levantar da cadeira pra quê? Discutir política de quatro em quatro anos era mais do que suficiente.

Não fugi à regra (e não me orgulho disso). Fui criada a leite com Nescau, vendo Castelo Ra-Tim-Bum e lendo a sessão de celebridades da Veja, quando meu pai assinava (ah, mas quem não assinava?).

E por que eu escrevi que éramos a geração Coca-cola? Porque minha prima de 14 anos que tira fotos de frente pro espelho pra por no álbum do Orkut divulgou a campanha presidencial Marina43, porque pessoas que só usavam a internet para participar de comunidades do tipo "sua inveja faz a minha fama" postaram o vídeo de uma professora falando sobre as mazelas da educação brasileira, porque eu entro no Twitter e vejo todo tipo de gente discutindo a legalização da maconha... Ontem mesmo, milhares - MILHARES! - de jovens da minha cidade foram às ruas protestar pelo impeachment da prefeita, quem diria?

As redes sociais conseguiram uma grande proeza: mobilizar a sociedade, em especial os jovens, em prol de assuntos políticos e sociais.

A pergunta é: de que modo tais meios de comunicação conseguiram fazer o que não se via desde os tempos do rádio e da TV preto-e-branco? A meu ver, a resposta é simples: as redes sociais se alimentam da vaidade humana. Do marketing, pessoal ou não. Foi-se o tempo em que a Internet era utilizada como simples meios de comunicação. As redes sociais são, acima de tudo, meios de exposição pessoal. E hoje não basta ter um álbum com fotos bonitas. Se é tão fácil abrir um site de notícias (ou ler seu micro-resumo em 140 caracteres no Twitter), por que não parecer, além de bonito, inteligente-engajado-politizado? Em tempos de overdose de informações e de redes sociais, pra se destacar é preciso mais que uma foto bonita, e os jovens já se deram conta disso.

É interessante a forma como o papel exercido por essas ferramentas evoluiu. Com o motor, na maioria dos casos, da insegurança, da vaidade e do egocentrismo, o jovem está - paradoxalmente - saindo de uma inércia egocêntrica de anos. E isso é bom.

Só não digo que é excelente, porque não se pode ignorar o seguinte questionamento: as revoluções do jovem tuiteiro fazem barulho, fato, mas com base em que tipo de informação? Quando é puro "oba-oba" e quando não é? Há esclarecimento o suficiente para julgar? O jovem tem força, e é ótimo que ele tenha redescoberto essa força. Mas é imprescindível que ele saiba usá-la corretamente. Com a mesma facilidade que determinado movimento para afastar um político corrupto pode ganhar visibilidade, uma revolução sem fundamentos legítimos pode se propagar.

Não estou criticando nenhum caso em particular, estou apenas registrando observações pessoais, e o receio que sinto quando vejo rapidez - e volatilidade - com que alguns temas se alastram nesse mundo virtual.

Bom, voltando ao ponto de partida, imagino que essa sensação de estranheza por sentir-me parte de uma geração decorra da consciência de que as coisas mudaram e que, pela primeira vez, tenho condições de vivenciá-las e ao mesmo tempo analisá-las. Ou seria porque finalmente estou dentro de uma sociedade em que as pessoas estão conscientes de seu papel, opinando - mesmo que com opiniões vagas (OK, é um começo), e eu não estava acostumada? Talvez seja pelo fato de que assistir a tantas mudanças me dê uma sensação de velhice... Já assisti a uma passagem de gerações, vejam só!

Ah, sem querer ser chata, do contra (zZZzz), clichê etc., mas já sendo: espero que meus futuros filhos sejam sim engajados-politizados-inteligentes (e lindos também, o que não vem ao caso). Mas que também leiam livros e jornais... E que assumam posições sérias, desde que com opinião formada. Ao menos fundamentada. Sim, sou ingênua. Espero que o mundo esteja melhor e que meus futuros filhos sejam melhores que eu, uma assumida personagem da geração Coca-Twitter.

2 comentários:

  1. Oi, Monique. Adorei o blog. Espero que continue escrevendo. :)

    Eu concordo com praticamente tudo o que diz o texto, mas não acho a nossa geração tão passiva assim.

    Lembro que, quando eu estava no ensino médio (e você também :P) houve duas ou três grandes manifestações estudantis na nossa cidade (pode ter havido mais, eu era muito desligada). Dois foram contra aumento de passagem de ônibus (¬¬) e um contra a demolição de um prédio histórico.

    Já depois que entramos na faculdade, lembro de mais manifestações contra a tarifa de ônibus (estudantes inclusive foram levados de camburão pra Delegacia o_O)... Mas é aquela coisa, antigamente não era tão fácil difundir esses acontecimentos, tanto antes quanto depois (apesar de existir internet e fotolog, ninguém usava pra isso, só pras fotos bonitas, hehe).

    Acho que as gerações mais novas podem se mobilizar mais porque hoje temos ferramentas melhores para isso com a internet (que sempre foi uma boa fonte de informação, com todos esses livros e jornais e revistas disponíveis, de todos os cantos do mundo).

    Não me considero uma pessoa extremamente politizada, mas meu contato pela internet com pessoas e idéias diferentes me fez ser menos "inercial". E eu espero que essa "globalização de idéias" proporcionada pela internet seja usada cada vez mais para que as pessoas tomem consciência da realidade para alterá-la.

    Me senti muito velha escrevendo isso, OK? :~

    Beijo,
    Cíntia

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  2. Exato! Eu meio que generalizei demais. Ficou parecendo que a passividade sumiu do dia pra noite, ou do ano passado pra cá.
    Eu vim pra Natal em 2005, mas lembro de alguns movimentos esporádicos. Talvez os adolescentes dos anos 2000 tenham sido responsáveis pela transição. :)

    O que eu quis enfocar no texto foi a amplitude e facilidade de propagação que tais movimentos ganharam com as ferramentas modernas, em especial as redes sociais. Pessoas engajadas sempre existiram, mas hoje a galera que vende a câmera no avatar (maioria!) também entrou na briga. Pelos motivos fúteis que eu falei no texto, mas entrou. E essa galera tem um peso enorme. Os protestos, nas ruas ou não, são mais frequentes. E eu imagino que essa participação tende a aumentar cada dia mais. Foi o que eu quis dizer. Micarla tá morrendo de medo do povo, isso é inédito aqui no RN, né? Vamos torcer para que os demais e próximos representantes desempenhem melhor seu trabalho, sabendo que o povo não está mais engolindo qualquer coisa.

    Hahaha... os 20 são os novos 18, eu acho.

    Beijo, obrigada pelo comentário e pelo elogio!

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